O argumento para a reportagem se baseou no conceito de “retrotopia”, criado pelo filósofo polonês Zygmund Bauman, no qual sociedades projetam seus ideais de futuro baseados na nostalgia de um passado de prosperidade, um pensamento que tem se revelado promissor diante da crise das democracias ocidentais e se tornou um dos pilares para governos de extrema-direita. O texto reflete sobre a capacidade do universo criado pelas distopias e histórias de ficção científica de refletir ou potencializar aspectos da psicologia e do comportamento social presentes no caos generalizado em que parecemos viver. Com este universo em mente, as imagens que serviriam de base para o layout teriam que partir de um universo iconográfico que tivesse apelo com o público jovem da revista. Optamos por reunir elementos destas histórias (dos romances de Orwell e Asimov até a série Stranger Things) e representá-los mesclados a objetos que tivessem uma estética que o século XX previra como a aparência dos “objetos do futuro” (especialmente os projetados pela Braun na década de 1960). Como se tratava de uma matéria extensa com muitas hierarquias de texto (subtítulos, texto corrido, boxes e timelines, optamos por dois estilos de ilustração (as imagens de página inteira teriam como tema os objetos modelados com uma renderização realista – estas imagens seriam imersivas e os detalhes da composição fariam referência às histórias de ficção mencionadas na matéria e aspectos da realidade atual, sempre com algum toque perturbador – e os boxes e timelines teriam ícones em vetor, num estilo mais geométrico e duro, para que não competissem com as ilustrações).